O Gambito da Rainha
**SPOILER** A série não é sobre xadrez
Não me considero feminista - não, pelo menos, no contexto atual - e não sou uma americana nacionalista. Tampouco percebo de cinema e produção. Talvez por isso não gostei desta série. Tinha-a na minha lista de espera por todo o sururu à sua volta mas... ou alguma coisa me escapou ou a série é tão superficial como eu a interpreto. Apesar de ser uma série que capta a estética e o ambiente dos anos 50 e 60, reflete imenso os valores que latejam nos dias de hoje e - desculpem a frontalidade - é quase uma forma subtil de lavagem cerebral.
Os primeiros episódios são mais interessantes e parece que vão mesmo funcionar como catapulta para algo mais interessante. Percebemos a história da personagem principal, compreendemos os problemas e traumas por que passou na infância mas falta algo. Falta emoção. Tudo parece mecanizado. Pouco sentido. Foi-me extremamente difícil sentir empatia por ela. Sei que é uma mini série de ficção mas a história é surreal e absurda. Para uma adolescente que não sabe quem é e não tem tempo para se encontrar, tem uma personalidade mimada, empertigada e pouco humilde e, ao mesmo tempo, confusa, pouco empática, o que me causa alguma confusão do porque é que toda a gente a apoia e a vai ajudando ao longo da sua ascensão no mundo do xadrez.
O diálogo é fraco, a tal ponto que até eu poderia ter escrito a série... É parado... não há profundidade. É básico.
Algo que não dá para ignorar na série é que estamos a falar de uma jovem mulher, na década de 60 (década de ativismo, emancipação feminina, Guerra Fria...), que vai conquistando títulos em competições de xadrez sempre contra homens. Sempre contra homens. E quando não ganha (se não me engano foram apenas três vezes) sai disparada do torneio a chorar. O grande objetivo é chegar a Moscovo e derrotar o grande mestre do xadrez soviético (claro está!). Até aprende russo fluentemente em escassos meses! Ao longo da série é óbvia a bajulação dos homens e da população russa fã de xadrez que se interessou pela menina prodígio. Há uma diabolização da figura paterna (pais que abandonam a família) mas uma quase apologia à figura materna que não a trata melhor (introdução ao álcool e oportunismo). Antes de ver o último episódio fiquei a saber que em torneios de xadrez as mulheres não jogam contra homens e há, nesse último episódio, uma referência à campeã mundial feminina (russa) que nunca tinha jogado contra homens.
Portanto, não só é uma mulher que joga contra homens como é a única mulher americana que joga contra homens internacionalmente.
Parece que os criadores da série apenas querem provar algo com uma cara laroca que, é inteligente porque aprende xadrez, mas cujos únicos interesses são roupa. E fazer beicinho. E o cliché das bebidas e "drogas"... mas a série é uma aglomerado de clichés de qualquer forma.
O fim é demasiado previsível... Nem vale a pena comentar.
Não sei se é da atriz - só a vi em Peaky Blinders num papel secundário - mas foi a segunda pior série que vi. A que menos gostei nem me dei ao trabalho de ver além do primeiro episódio.
Não acho que as mulheres (ou qualquer outra pessoa) tenham de provar o que quer que seja aos homens. A Ninguém. E, como disse no início, a série pouco ou nada tem a ver com xadrez. Mas como não jogo nem sei jogar, deve-me ter escapado algo.